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São Paulo
5 de fevereiro de 2025

Brasil pode crescer e inovar com IoT, mesmo com os desafios da conjuntura

<p><em>Werter Padilha (*)</em></p>
<p><img src="images/artigos/2022/Werter_Padilha_ABES_300.png" border="0" width="300" height="491" style="float: right; margin: 5px;" /></p>
<p><span style="font-size: 12.16px;">Para mim, é sempre uma grande satisfação relembrar o período no qual participei como advisor no Conselho Consultivo que elaborou o projeto-estudo “Internet das coisas: um plano de ação para o Brasil”, iniciado em 2016 pelo MCTI e BNDES. Não me recordo de nenhum trabalho tão bem-feito e com tantas mãos atuantes: centenas de experts do Brasil e dezenas internacionais, centros de pesquisas, universidades, representantes de classe técnica e patronal de nossa sociedade, parlamentares, entre outros. O resultado culminou no Plano Nacional de Internet das Coisas (PNIoT), Decreto nº 9.854, de 25 de junho de 2019, com a finalidade de implementar e desenvolver a Internet das Coisas no Brasil.</span></p>
<p>Saúde, Cidades Inteligentes, Indústria e Rural foram as 4 verticais priorizadas. Mais recentemente, a vertical Turismo foi também incluída no PNIoT, em função do impacto da pandemia nas atividades turísticas, a necessidade de promover a transformação digital nesta área e a disponibilização de destinos inteligentes no país.</p>
<p>Cada uma destas verticais começou a ser tratada ao estilo “hands on” em Câmaras 4.0, em Brasília. Os Ministérios da Saúde, Economia, Agricultura e Turismo começaram a tocar as estratégias, políticas públicas, gerar sinergias e fontes de fomentos para fazer o IoT acontecer no Brasil.</p>
<p>Todas as Câmaras, sempre com a participação do MCTI na moderação, têm sido fóruns muito relevantes, porque propiciam a integração da academia, de institutos de ciência e tecnologia (ICTs), entidades que representam diferentes setores econômicos e os demais atores do cenário da inovação e empreendedorismo.  E nem a pandemia afetou a condução dos trabalhos das câmaras, pois todos continuaram engajados, mesmo que se reunindo virtualmente.</p>
<p>As Câmaras 4.0 destas verticais do PNIoT têm apresentado seus resultados e planos de ação. É um processo retroalimentado, já que sinergias têm sido criadas e planos de ações e investimentos têm sido gerados e aperfeiçoados nestes encontros. Claro que gostaríamos que os resultados fossem mais expoentes em alguns casos, mas sou testemunha de que, apesar dos obstáculos, bons e firmes passos foram e continuarão sendo dados.   </p>
<p>Reitero que na pandemia os incentivos não pararam. BNDES, ABDI, Embrapii, Finep e Softex, só para citar alguns nomes, implementarem diferentes linhas de investimentos e editais para projetos de IoT.  </p>
<p>Desde o dia 1º de janeiro de 2021, dispositivos de Internet das Coisas (IoT) e para sistemas de comunicação máquina a máquina (M2M) ficaram isentos de pagamento de Fistel, de Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP) e de Condecine pelo prazo de cinco anos. Ou seja, é vital aproveitarmos este incentivo dentro de sua validade.</p>
<p>Outra boa notícia foi o novo fôlego dado ao Padis (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores).   O susto foi grande, pois sua renovação ocorreu, como dizem, “aos 40 minutos do 2º tempo”. O que importa, entretanto é que a Lei 14.302/22 foi promulgada e prorroga os incentivos do Padis até 2026.</p>
<p>Destaco também o “gol de placa” representado pelo sucesso do Leilão do 5G, ocorrido em novembro de 2021, que viabilizará a “autoestrada de alta velocidade” pela qual a Internet das Coisas deverá deslanchar.  Ansioso em começar a ver os primeiros resultados já compromissados para 2022.</p>
<p>E vale deixar registrado que temos o recente edital da FINEP/MCTI, que acabou de sair do forno, e vai selecionar projetos de inovação em Inteligência Artificial (IA), desenvolvidos por startups nas verticais já citadas do PNIoT. Ao todo, serão R$ 80 milhões em recursos de subvenção econômica. </p>
<p>Assim, afirmo que o Brasil está acontecendo! Pelo segundo ano consecutivo, registrou-se um recorde no total aportado em startups, por meio de 779 transações. Segundo levantamento da plataforma Distrito, as startups brasileiras receberam um total de US$ 9,4 bilhões em investimentos em 2021, sendo que este valor é 2,5 vezes maior que o investido em 2020, e o maior desde o início do estudo, em 2011. O Brasil, que em 2018 possuía apenas um unicórnio, atualmente, já contabiliza 16 deles, segundo dados de fevereiro de 2022 da StartupBase.</p>
<p>Relevante também destacar que neste cenário, várias Venture Capital foram criadas no Brasil nos últimos 3 anos, e estão direcionando suas teses de investimentos cada vez mais para inovação e tecnologias disruptivas. Como dizem, “tem dinheiro na mesa para bons projetos”!  </p>
<p>Como exemplo, cito a iniciativa entre BNDES e Qualcomm Ventures LLC que aportaram R$40 milhões cada uma no Fundo IoT.  Neste projeto, a Indicator Capital foi selecionada como gestora e o Fundo Indicator 2 IoT FIP tem agora valor captado de R$ 240 milhões, focado em investimentos early stage, sendo o primeiro especializado em Internet das Coisas (IoT) e Conectividade na América Latina.</p>
<p>Podemos afirmar que nunca o país teve tantos investimentos e fundos apostando em inovações tecnológicas baseadas em IA, IoT, 5G, entre outras. Essa entrada de capital aumenta as chances de as startups escalarem e atraírem mais investimentos.</p>
<p>Está tudo um “mar de rosas”? Não! Mas, o fato é que os problemas estarão presentes em qualquer cenário!  Existiram problemas no passado e existem hoje. Por isso, é necessário colocarmos em campo nossa resiliência, perseverança, flexibilidade. Juntemos criatividade, agilidade para inovar e tracionar na receita de sucesso. Infelizmente estamos vivenciando o conflito entre Rússia e Ucrânia e suas farpas também nos atingem; a inflação é um ponto crítico, pois aumentou no Brasil e no mundo; e, especificamente na conjuntura brasileira, falta pouco mais de 6 meses para as nossas eleições em 2022, um fator que costuma desestabilizar. </p>
<p>Há outra questão-chave, que é como o Brasil vai responder à crise mundial de chips, que combina alta demanda e escassez de dispositivos, o que leva a um aumento de preços e longos prazos de entrega.  A dificuldade é global, mas creio que há algumas alternativas para exercermos nossa resiliência com criatividade.  A renovação do Padis foi um excelente sinal. Por outro lado, o TCU suspendeu o processo por meio do qual o governo federal planeja fechar a Ceitec, a única fábrica de chips da região.</p>
<p><span style="font-size: 12.16px;">Em meio a este imbróglio, ocorreu um outro processo no qual a Softex foi a única a apresentar proposta ao chamamento público para celebrar Contrato de Gestão cujo objeto seja a pesquisa, o desenvolvimento, a extensão tecnológica, a formação de recursos humanos e a geração e promoção de empreendimentos de base tecnológica em semicondutores, microeletrônica e áreas correlatas. Como isso ocorrerá? Ainda não se sabe. O ministro Marcos Pontes, do MCTI, declarou durante evento em Barcelona, que o país terá um novo programa de semicondutores. Aguardamos que essas definições sejam divulgadas brevemente.  </span></p>
<p>Diante dessa conjuntura, espero que o Brasil não se perca em debates jurídicos e deixe passar a oportunidade de termos alguma posição respeitável neste tabuleiro do mercado mundial de semicondutores.   Afinal, o mundo está refém da produção asiática, lembrando que Taiwan e China respondem por cerca de 70% dos chips que o mundo consome e aqui é outra situação geopolítica que exige nossa atenção.</p>
<p><span style="font-size: 12.16px;">Para encerrar esta análise, apesar das previsões, o PIB brasileiro cresceu 4,6% em 2021 e superou as perdas provocadas em 2020 como efeitos da Covid-19. O crescimento do ano passado foi puxado pela indústria e serviços. Então, digo que é hora de valorizar os nossos pontos fortes: a capacidade dos nossos talentos empreendedores, a qualidade dos ICTs, o tamanho do mercado interno e a vontade de fazer acontecer. Podemos superar os desafios e construir um futuro promissor, um Brasil Mais Digital e Menos Desigual, no qual a IoT certamente já é uma das viabilizadoras das transformações positivas que almejamos.</span></p>
<p> <em>(*) CEO da Taggen e Conselheiro da ABES.</em></p>
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